sábado, 2 de julho de 2011

PRESIDENTE, PRESIDENTA, SEU, NEGA-FULÔ

(Em resposta à postagem entitulada “Presidente ou presidenta... Aula de Português”)

        Mas tal atitude da nossa presidente, quiçá, tenha uma explicação bem plausível: deve ter sido pra não deixar triste o seu mentor e "mestre" (dos genocídios gramaticais) Lula (Como a dizer: "Puxa vida, "sabi", Dilma, "num" dá pra você "cumeter" pelo menos um errinho de "purtuguês", só "umzinho" "qui" seja?!..."

        Por falar nisso, estou esperando até hoje pelo dia em que alguém irá despertar para um erro crasso que vem sendo cometido há séculos, inclusive em nossa literatura acadêmica, qual seja, no emprego da corruptela do pronome de tratamento "senhor". Falo da forma contráctil desse vocábulo, que na verdade deveria ser grafada "seo" (com "o") e não "seu" (com "u"), já que o segundo termo não é um pronome de tratamento, mas sim possessivo (como, por exemplo, na frase: "qual é o seu nome?", na qual o seu uso está correto), embora existam inúmeras obras literárias, inclusive de autores consagrados, em cujas páginas ficou registrado tal deslize, que, tudo indica, tem passado despercebido pelo crivo dos revisores. Talvez, tal equívoco deva-se ao fato dos oficiais da língua e educadores reformistas de plantão (que, aliás, mexem em tudo o que não precisa ser mexido) não terem atentado pra essa fundamental e necessária diferenciação gráfica, já que a pronúncia de "seo" e "seu" se igualam e soam idênticas, o que, certamente, enseja esse (não justificável) erro.
         E isso, penso eu, já vem de muito longe, provavelmente, devido ao convívio de nossos antepassados escravizados com os nossos colonizadores lusitanos, cujo sotaque arrojado pode ter propiciado o início de tal confusão, numa contraditória evolução regressiva do vernáculo, gerando a corruptela ou derivação regressiva "senhor" > "sinhor" > "sinhô" > "siô" > "seo" ("senhor" Manoel > "sinhor" Manoel > "sinhô" Manoel > "siô" Manoel > "seo" Manoel).
         Na história da música popular brasileira há um renomado compositor, conhecido sob o pseudônimo Sinhô, que, a exemplo da arcaica expressão "nega-fulô", que nada mais é do que a corruptela de "nega-flor" ou, no léxico, "negra flor". E hoje, como se não bastasse tudo isso, e pra achincalhar ainda mais a coisa, brilha no topo da montanha sonora da MPB o nome de Seu Jorge (talento indiscutível), sacramentando o erro e incorporando de vez (mais uma vez) esse mal uso de um pronome possessivo à já tão maltratada língua, que outrora fora a mais rica e nobre herança um dia deixada pelos nossos lusos patrícios, dita, lá e cá (quando empregada com zelo, clareza e observância), o signo, assim como eles mesmos, o bom português.